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Reflexão.

Estamos doentes, numa sociedade cada vez mais veloz, nós simplesmente não sabemos como lidar com todas essas mudanças. Ninguém, em sã consciência, é contra a tecnologia, ou mesmo as redes sociais, mas é consenso que precisamos aprender como usar isso, caso contrário viramos escravos. É muito poder, e sem sabedoria o poder nos corrompe (vide senhor dos anéis).

 

Estamos infelizes no trabalho, pois nessa sociedade doente lhe damos valor em demasia. É foco demais em status e dinheiro. Talvez por ser uma sociedade patriarcal, material e que anseia por suprir seus vazios existenciais, escalando hierarquias de dominância. Isso faz com que os homens imaginem que assim alcançarão a atenção das mulheres – provavelmente por falta de um apego seguro com seus pais (principalmente da mãe). Nesse sentido, mulheres aprendem também a valorizar a competição e perdem a sororidade. Entretanto, temos muito mais a aprender com o feminino sobre cooperação, do que ensinarmos sobre competição – embora nessa 3D ambos sejam importantes. 

 

Nossos anseios espirituais jamais serão supridos por coisas materiais. É a magia que transcende e a mágica só acontece quando desapegamos (Yalom). 

 

Quando pensamos em sucesso pensamos em que? – Dinheiro? Enquanto não superarmos isso, nossa sociedade seguirá doente. Dinheiro é, sim, importante, mas não pode ser o foco. É um meio, uma consequência do valor agregado à sociedade. O Robert Happé sempre dizia que, para aqueles que estão seguindo seus corações e propósitos, o universo nunca deixará que passem necessidade. Talvez não terás o que desejas, mas isso é uma ilusão do ego e não uma necessidade. 

 

Steven Pinker, principal psicólogo de Harvard e do mundo, tem uma visão de que o aumento da depressão pode ser visto como algo positivo. Mais pessoas estariam com suas necessidades básicas atendidas e se questionando se estão felizes com as vidas que levam. A doença social é que não queremos sentir a dor, queremos estar sempre sorrindo, sempre no prazer e esse vício no hedonismo nos impede de evoluir. Como a Teoria U (Otto Scharmer – MIT) deixa claro,  precisamos ir ao fundo do poço para ter grandes mudanças. Isso funciona tanto para organizações quanto para pessoas. Não à toa o mito da Fênix é um dos arquétipos mais influentes do mundo há séculos, quiçá milênios.

 

Uma vez estava conversando com Lorenço Bustani (fundador da Mandalah, principal consultoria organizacional de impacto social do país) e em sua opinião o principal objetivo do nosso trabalho é fazer com que as organizações e seus líderes se permitam passar por suas próprias catarses. Permitir-se questionar, permitir-se mergulhar, não saber. Diogo Lara, maior psiquiatra do país, define a depressão como um congelamento, faltando ter a coragem de ir até o fundo do poço, de sentir cem por cento da dor. Está tão ruim  e difícil que dá medo de ir mais, de sentir mais. Mas quando mergulhamos até o fundo da piscina é muito mais fácil pegar impulso e voltar mais forte. 

 

Me parece claro o acontecimento de um despertar espiritual por meio do propósito. Um sentimento de que existe algo a mais, que não estamos aqui só para sobreviver mas sim para viver e para transcender. Nossas almas parecem cansadas de estar a tantas gerações nessa samsara, algumas vem desde a capela (planeta anterior). 

 

Ainda na ânsia existencialista de superar o assassinato divino por Nietszche. Colocamos o trabalho no lugar da igreja, seguindo o padrão de não assumir nossas responsabilidades. Querendo um salvador. Numa síndrome de Peter Pan, desta sociedade doente que endeusa a juventude e descarta a sabedoria e transcendência. Peter Pan tem só o Capitão Gancho como exemplo de adulto, um homem rancoroso e do mal, que o crocodilo já comeu a mão e ficou com o relógio fazendo tic tac em seu estômago, esperando quando comerá o resto do Capitão. Com a falta de um exemplo positivo o Peter Pan acaba por não querer crescer.  Com isso, abre mão do seu grande amor, Wendy, uma menina conservadora de Londres, pois um relacionamento com ela exigiria crescer e assumir suas responsabilidades. Sem exemplo e acreditando que o prazer passageiro trará a felicidade que ele busca, vive com os meninos perdidos, mais novos, mais infantis e sem referência como ele. Assim,  tem como companheira feminina apenas a Sininho que simplesmente não existe, não passa de imaginação. 

 

Nessa perspectiva, quantos homens não estão perdidos, querendo permanecer crianças com medo de assumir responsabilidades. Andando com jovens para se sentirem mais homens e serem admirados, vivendo relacionamentos vazios e superficiais, mas que no fundo permanecem com um grande vazio existencial. Porque grandes coisas na vida não são fáceis, exigem maturidade e coragem para serem construídas. 

 

É duro demais aceitar a realidade de que somos responsáveis pela nossa própria vida. Mas é libertador, e é na responsabilidade que a verdadeira felicidade mora (Jordan Peterson).